Cumpri a dolorosa função de assistir ao debate entre a dra. Ferreira Leite e o senhor José Sócrates. Pobre de mim. Que coisa entediante. Foi como estar às três da manhã a ver as televendas na TV durante 20 minutos até cair em mim e perceber que tenho na mão um telecomando capaz de me teletransportar para algo mais digno de se ver. Tenham dó de mim. Eu assisti impávido ao debate entre aqueles dois e estou a dar-me ao trabalho de escrever sobre isso. Façam o favor de ter pena de mim.
Cumpre dizer, em primeiro lugar, que chamar àquilo um debate é como chamar gato ao um rato. Quero dizer que é chamar de algo uma coisa que o não é. Mas a culpa não foi dos protagonistas, porque tenho achado isso de todos os “debates”. A culpa é deste formato que é capaz de transformar um debate numa espécie de dupla entrevista.
Mas do debate concreto entre Ferreira Leite e José Sócrates nasceu em mim uma indignação ainda maior do que dos outros. É que, para mim, ficou claro que o PSD mais do que merecer, precisa do meu voto. Do meu e, claro está, do de todos os portugueses. O debate de ontem mostrou não mais que uma coisa: José Sócrates continua a dizer que salvou o país, que criou 130 mil postos de trabalho, que modernizou Portugal, que fez muito e muito bem pela educação e pela justiça. Manuela Ferreira Leite retorque, como eu e como qualquer português não-senil: de que serviu tudo isso? Portugal tem hoje mais desempregados do que em 2005; continuamos a sentir os efeitos nefastos da burocracia em cada conservatória, em cada repartição de finanças, em cada Câmara Municipal; continuamos a ter uma educação caduca, alunos mal ensinados, mal preparados, alunos que batem nos professores, professores que não têm como exercer autoridade sobre os alunos; continuamos a ter uma justiça que não funciona, que é lenta, que é dispendiosa, burocrática e, acima de tudo e mais grave que tudo, continuamos a ter uma justiça que é injusta. Mais, temos agora censura! (Escreverei sobre esta nova censura num seguinte post).
Então de que serviram quatro anos e meio de governação de José Sócrates? Ponham a mão na consciência e encontrem solução para esta questão. Questão para a qual eu não encontro resposta é: como é que ainda há compatriotas meus que, depois desta aventura, depois de tantos escândalos que comprometem inequivocamente a seriedade de José Sócrates (o caso da sua licenciatura, o caso “freeport”) depois desta amálgama de diferendos com a classe de advogados, juízes e professores, continuam a pensar votar neste individuo?