Está aberta nova guerra entre os principais partidos em Portugal. PSD defende que as eleições Legislativas e Autárquicas devem ser realizadas no mesmo dia, por seu turno, o PS defende datas separadas, sendo certo que as Autárquicas, que dependem de José Sócrates, em Outubro, depois das Legislativas em Agosto ou Setembro.
Não me é difícil perceber tal diferendo. É que, como bem sabemos, o PSD é o partido dominante nas autarquias em Portugal – é – facto! – o partido que, sozinho em alguns Concelhos, e em coligação com o CDS noutros, mais Câmaras tem arrecadado nos últimos actos eleitorais autárquicos. Mais, por norma, o partido que ganha Porto e Lisboa, ganha o resto do país.
Sabemos que, infelizmente para uns, felizmente para mim, Rui Rio tem tudo para voltar a vencer as eleições no Porto; e nas últimas eleições europeias o PSD foi o partido mais votado em Lisboa abrindo caminho – infelizmente para uns, novamente felizmente para mim – a uma possível vitória de Pedro Santana Lopes em Lisboa. Reunidas condições normais, eu aposto que o PSD ganha as próximas eleições autárquicas, e como dizia o outro, em condições anormais, também aposto que o PSD as vai ganhar.
Ora o que tem isto a ver com o prólogo deste artigo? Tudo.
É que se as contas são relativamente fáceis de fazer para as eleições autárquicas, já quanto às legislativas elas são mais complexas. E José Sócrates sabe disso. E Manuela Ferreira Leite sabe também. Sabemos que o resultado de umas eleições próximas de outras, podem influenciar o resultado das segundas. Então, com a vitória do PSD nas europeias o partido da social-democracia pode ver-se, neste momento, a discutir ombro a ombro as eleições para a Assembleia da República; se as eleições fossem no mesmo dia, então, com a onda laranja a pintar o mapa autárquico português, o PS podia ver sacrificado, por arrasto, o resultado das legislativas. Mas se as eleições forem separadas – como quer o PS – então uma ainda possível e, talvez, provável vitória socialista nas legislativas é que poderia eventualmente resultar num mal menor para o PS no resultado eleitoral autárquico de Outubro.
Jogos partidários à parte, defendo, como cidadão, que as eleições sejam realizadas em dias diferentes. Bem sei que o custo seria duplicado; bem sei que podia ter efeitos negativos na abstenção; mas também sei que pode gerar confusão aos eleitores terem quatro boletins de voto à sua frente num só dia: Assembleia de Freguesia, Assembleia Municipal, Executivo Camarário e Assembleia da República.
Mas também sei que José Sócrates e Manuela Ferreira Leite têm – e têm mesmo! – que fazer outras contas. E está aqui a razão por que não se entendem quanto à data das eleições. Resta saber o que decidirá o dr. Cavaco Silva. Tenho para mim que optará pela modalidade de eleições separadas. Vá lá saber-se porquê.
Amigos Leitores
Depois de um hiato político-social característico de anos sem eleições (e se calhar sem representatividade política), volta à carga toda a parafernália eleitoralista com tempos de grande discussão.
Na verdade, é curioso verificar que nestes últimos anos, à excepção das manobras parlamentares anti-governo de todos os partidos (menos o PS), a política partidária Portuguesa teve um abrandamento de discussão que foi extremamente demarcado e que resultou numa grande infelicidade: os parcos incentivos ao debate político fulcral levaram a que uma maioria absoluta de um governo psêudo-socialista diminuísse uns metafísicos índices de democracia em Portugal.
O que verificamos, de grandes movimentações políticas, à excepção dos habituais comícios e outras patranhas partidárias, foram as movimentações de massa crítica que o Bloco de Esquerda teve na sua Marcha pelo Emprego, a manifestação por parte da CDU em Lisboa e outros poucos episódios políticos de menor dimensão.
Toda a política portuguesa ficou completamente reduzida a uma constante (e pequena) crítica das "governamentações" de José Sócrates e às batalhas de candidatos fantasmas que foram eleitos quase com mandato de término em 2009, no qual os partidos voltariam à carga com todas as armas.
E foi exactamente isso o que aconteceu: 2009 abriu-se com um pequenino (mas no entanto importante) debate sobre as futuras Autárquicas e com o periscópio político com a mira para as Europeias. Infelizmente verificamos, no entanto, que todas estas vontades políticas de "Não Brincar" ou de ser como um todo "Nós, Europeus" estão permanente assombradas pela sempre constante e mui antiga nuvem partidária das Legislativas.
Portugal, um país em que todos conhecemos e sabemos que de democrático nos últimos 30 anos teve uma aproximação àquilo que era a média dos anteriores 40, vê hoje uma agenda política de vitória legislativa a defraudar completamente todo o discurso e debate político das Europeias.
Eu sou um grande fã dos media, pelos melhores e pelos piores motivos, e aquilo que temos observado neste período de campanha são quase todos os partidos a fazerem uma campanha com base na crítica fácil de um governo de maioria absoluta sobre a sua autoridade nas medidas domésticas. Ora onde está o debate sobre o federalismo europeu? Onde está o debate sobre o muito importante pacote da comunicação que, caso sejam levadas avante algumas das medidas de certos grupos poderão impedir o próprio acesso da internet aos vossos caros autores deste blog?
E falando deste e doutros assuntos podemos referenciar, toda a questão das políticas do BCE em relação à crise, bem como toda a questão de incentivos de recuperação económica de uma Europa unida contra à crise, ou até a fulcral questão da própria metodologia de combate à crise por uma Europa de incentivos estatais ou de soberania reguladora? E Tratados de Lisboa, o balanço do Processo de Bolonha e outros tantos?
Nunca na vida vi umas eleições nas quais estivesse tão atento a todas as notícias sem conseguir extrair as opiniões políticas desses candidatos sobre os temas a que os cargos a que se candidatam, versam. Assim, apenas podemos chorar e gritar por uma campanha que não conte apenas com os ataques às forças governamentais (tenham ou não tenham razão) e que se foquem mais nos debates dos tópicos europeus, numa altura em que a Europa tanto precisa de nós como cidadãos.
. O duelo entre Sócrates e ...