Eu costumava equiparar dois partidos como extremamente parecidos, um pouco na base eleitoral, mas primariamente por terem sido criados sensivelmente ao mesmo tempo e de, nas europeias terem tido também resultados semelhantes à escala do esforço de primeira candidatura.
O Movimento Mérito e Sociedade, encabeçado por alguém de mais experiência têm com “pessoas” do que qualquer outro dirigente do MEP, chegou a considerar suspender as eleições devido à fraca e injusta cobertura dos pequenos partidos pelos Media e fez uma campanha de semelhante relevo do que nas Europeias. Falemos por exemplo do mítico cartaz da “Conchichinha”, a apelar ao que de mais popular os Portugueses tinham sem acrescentar algum valor, ou até às muitas campanhas de distribuições e de entregas de panfletos e programa.
Seria expectável que o MMS, com muito mais espaço ideológico para crescer do que um MEP nunca chegasse a ver uma descida de mais de 20 pontos percentuais em relação às Europeias, mas surpreendentemente, este passou de 0,61% para 0,29% perdendo mais de 4 mil votos. O fluxo de votos neste caso, não foi do PSD para o MMS, mas sim do MMS para o CDS-PP, dando azo à explicação do “voto útil” de Pinto Coelho.
A consequência destes resultados é de que o duelo psicológico entre “irmãos” como o MEP e o MMS foi ganho pelo primeiro, e o segundo perde assim a sua credibilidade de alguma vez sair do espectro dos micro-partidos. Talvez não fosse uma má ideia tornar o MMS um movimento político, não partidário, pois acredito que assim tivesse um maior apoio nas suas actividades (beneficiando também a sua causa meritocrática).
Fácil seria dizer algo como isto e acabar logo com o assunto. E se calhar o mais assustador é que, os Gato Fedorento acertaram em cheio ao “engraçarem” com o tempo de antena do PPM, pois este deverá ter sido o partido que a Campanha mais fraca e pouco credível fez.
Para um partido que, supostamente, se candidata a certas autarquias em coligação com o PSD e o CDS-PP, longe vai a questão da divisão da luta monárquica e longe vai a questão ideológica de qual o benefícios destas divisões de poderes para o crescimento duma causa que se diz monárquica mas não necessariamente anti-republicada de todo.
Para além do episódio do tempo de antena, tivemos a fantástica demonstração de que o PPM realmente pertence ao conjunto de micro-partidos e que as suas coligações são meros acasos de anti-democratização das eleições: uma campanha, seguida pelos media televisivos, em que Nuno da Câmara Pereira junto de duas apoiantes munidas de bandeiras e t-shirt do partido, caminhavam junto de feirantes num mercado que provavelmente pensaria que estes teriam sido três elementos perdidos de uma campanha do CDS-PP ou do PSD ou então na promoção de mais um dos seus CDs de Fado.
Depois de um ano que para os monárquicos significa o mundo, e de dois curiosos eventos para aumentar as celebrações: os casos das bandeiras na CML e na CMP (este último muito menos badalado), esperar-se-ia que o PPM saísse com um resultado maior do que uns pequenos 0,27% (mesmo apesar de não ter tido uma grande queda em relação às Europeias).
O Partido Nacional Renovador venceu. E venceu não devido aos seus resultados percentuais (nem pelo número de deputados, obviamente) mas porque conseguiu fazer aquilo que em 2005 teria sido impossível: mudar a imagem de um partido da extrema-extrema-direita violenta, cheio de supostos neo-nazis, skinheads e fascistas, para um partido mais conservador, familiar e “politicamente correcto”, sem nunca abandonar as suas ligações com movimentos mais extremistas.
Se há partido que conseguiu reunir uma sólida base eleitoral e, potencialmente, sem que a perca numas próximas eleições, foi o PNR, pois este transformou-se numa ponte entre uma realidade que muitos Portugueses achavam exagerada, mas que lá no fundo até nutriam algum tipo de compreensão sobre as ideias e ideias dessa luta nacionalista.
Esquecendo casos que, no passado, envergonharam o PNR, e pondo para trás qualquer discurso ao combate à imigração da forma mais dura possível, este decorou os seus discursos e campanhas com as suas velhas bandeiras mais populares: a protecção dos valores da família e os direitos exagerados dados aos criminosos em paralelo com uma restrição de direitos às forças de segurança.
O PNR está a amadurecer e, com isso, a perceber de que o voto extremista apesar de ser ainda grande, tem como base uma ideologia volátil, e está a apelar ao seu lado mais tradicionalista, tomando algumas das bases do ala autoritária do PP (conseguia-se ver algumas sobreposições de temas e ideias) e a roubar votos tanto aos democratas cristãos como a alguns PPDs claramente descontentes.
Estranho é, nem o PNR conseguir perceber a vitória. Pinto Coelho, pelos vistos não notou que a descida de 0,37 (Europeias) para 0,21% (Legislativas) não é assim tão grande considerando, as restantes dos partidos pequenos e aínda a situação, por ele referida, do "voto útil no CDS-PP".
O Partido Humanista tinha uma hipótese, depois do desastre que lhe foram as Europeias. Viu o Movimento Partido da Terra, com uma posição complementar e claramente associável – a ecologia – e decidiu que teria de dar um salto para saírem os dois da realidade dos micro-partidos.
Surgiu a FEH – Frente Ecológica e Humanista – um projecto bem construído e com candidatos de bom perfil
Como já referi estas eleições eram a melhor hipótese de angariar uma maior base eleitoralista, devido ao descontentamento gerado junto dos Bloco Central (daí, obviamente, o surgimento de partidos ou de atenção a partidos pequenos). Claro está que, comparando as Europeias com as Legislativas, seria expectável que a FEH fosse ter, nas Legislativas, uma percentagem menor do que a soma dos dois partidos nas Europeias. Tal aconteceu com os 0,21% atingidos ainda mais prejudicados pela não candidatura conjunta do MPT em alguns círculos (por não presença do PH).
No fim das contas, para a campanha relativamente forte e tão geradora de expectativas como a FEH, esta foi muito prejudicada pela abstenção menor do que nas Eleições, não tendo conseguido, como a primeira consolidação do mundo dos “pequenos”, ganhar muito entusiasmo.
“Será uma daqueles movimentos todos janotas?”, “Pode também ser um daqueles partidos contra o aborto?!”, “Será que são anarquistas?” foram algumas das frases que eu ontem, no pós-eleições ouvi serem proferidas à porta do meu local de voto.
A verdade é que muito sorrateiramente, o PPV infiltrou-se no Boletim de Voto e, sem grandes alaridos nem campanhas, conseguiu aquilo que, na minha opinião, é uma boa e satisfatória base eleitoralista para um Partido que, ninguém sabe bem o que é.
Sim, é um Partido contra o Aborto e completamente direccionado para a luta contra o Aborto e fazem da sua representatividade eleitoral a bandeira de peso contra os resultados do referendo passado.
Portugal pró Vida conseguiu apelar ao sentimentalismo do voto, junto das pessoas certas, numa altura certa em que muita gente está descontente com os governões, para arrancar um belo começo na sua carreira partidária.
Portugal é especialista e considerado um case-study na formação de movimentos políticos não-partidários, seitas e de vez em quando partidos de base ideológica algures no triângulo entre o Marxismo-Leninismo, o Trotskismo e do Maoismo.
O Partido Trabalhista poderia muito bem se enquadrar neste tipo de classificação e, imaginando uma situação extremamente caricata, em qualquer serviço administrativo Português, os seus amados trabalhadores de função pública iriam obrigatoriamente relegá-lo para os guichés Marxistas-Leninistas.
No entanto o PTP é um partido Trabalhista, derivando-se da influência Anglo-Saxónica, e com grande apoio do Partido Trabalhista Inglês. Coisa que os eleitores não perceberam, desde aquele clássico tempo de antena passado nos Esmiuçadores, até à presença muito peculiar do seu líder, passando ainda por propostas que pouco têm a ver com um enquadramento de um Partido Trabalhista internacionalmente.
Um lugar esforçado e merecido, especialmente junto do “eleitorado do engraçado”, para quem o voto é transformado em prémio do Partido mais caricato!
Os resultados são públicos – com a excepção dos deputados dos votos estrangeiros – e são completamente lógicos mas estranhamente imprevisíveis. Desde uma margem confortável entre o PS e o PSD, até ao êxodo de votos do Centralão, passando por um PP de força e fé a arrancar o terceiro lugar de um Bloco em claro crescimento.
Vou escrever 15 artigos, um para cada partido, frente, movimento ou qualquer outro candidato às Legislativas’09, descrevendo os efeitos do seu resultado, bem como este foi conseguido e o que acontecerá daqui para a frente.
Porque as eleições legislativas são, acima de tudo uma experiência claramente nacional, eu quis vê-a numa perspectiva extremamente pessoal e particular do que foi esta ridícula salgalhada de partidos e confusões eleitorais chamada “Eu e as Legislativas’09”!
Cumpri a dolorosa função de assistir ao debate entre a dra. Ferreira Leite e o senhor José Sócrates. Pobre de mim. Que coisa entediante. Foi como estar às três da manhã a ver as televendas na TV durante 20 minutos até cair em mim e perceber que tenho na mão um telecomando capaz de me teletransportar para algo mais digno de se ver. Tenham dó de mim. Eu assisti impávido ao debate entre aqueles dois e estou a dar-me ao trabalho de escrever sobre isso. Façam o favor de ter pena de mim.
Polémica instalada em Portugal. Ah! Como eu amo Portugal. Amo mesmo. Palavra. Somos um país com um clima de fazer inveja. Os nossos invernos passam a correr e os nossos verões – admitam lá! – são muito bons. Temos óptima gastronomia, óptimas praias e somos um país que deve pouco ao mínimo para ser desenvolvido.
É verdade que temos muitos desempregados, mas a malta já se conformou e sabe que isto é da conjuntura e que daqui a uns tempos vamos voltar ao velho período quasi cavaquista. Então e se a malta se quiser irritar com alguma coisa como é que faz? Seria uma pasmaceira de país se tudo fosse tão perfeitinho que ninguém tivesse ponta por onde pegar.
Mas cá nós, os portugueses puros e duros, somos artistas na arte do desenrascanço e logo á mínima merdinha arranjamos o que dizer. Ah! Pois, não. Vejam lá se esta não está muito boa. Vamos todos dizer mal disto: a dra. Ferreira Leite usou a viatura oficial do governo regional da Madeira. Pumbas! Aqui está uma grande polémica.
Agentes políticos do meus país, toca a fazerem uma pausa na discussão sobre os grandes investimentos públicos, sobre o desemprego, sobre a criminalidade, sobre a sustentabilidade da segurança social, sobre a saúde, sobre a educação et caetera e vamos partir a louça toda porque isto é inadmissível! A dra. Ferreira Leite lesou o Estado português. Aqueles 40 euros que gastou em gasolina na Madeira, olha que davam para matar a fome a muita gente. Ou não davam? Davam pois. Para já serviu para matar a fome daqueles que andavam aguadinhos por dizer estupidezes.
Raios partam os maldizentes.
. Eu e as Legislativas’09: ...
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. Ferreira Leite Vs. Sócrat...