4) CDU e CDS-PP: a ressaca de má liderança
Falo destes dois partidos pois acredito que estão em situações muito similares, embora em fases diferentes da evolução dessa situação.
A CDU obteve um fantástico resultado nestas últimas eleições, mostrando que os Comunistas e os Verdes conseguiram roubar votos ao PS e prevalecer num cenário de também sucesso bloquista. Poderia-se pensar que estes teriam sido o alvo dos votos roubados do Bloco, mas pelos vistos parece que o eleitorado descontente e cansado do PS deu votos tanto ao BE como à CDU. No entanto este resultado deriva apenas de duas simples razões, com percentagens diferentes: 30% à força de Ilda Figueiredo na sua campanha (uma verdadeira luta contra imensas adversidades) e 70% à brilhante liderança que Jerónimo de Sousa tem tido à frente do PCP nestes últimos anos. O eleitorado Comunista, estava cansado da apatia de Carlos Carvalhas e mal viu o brilhozinho nos olhos do operário virado sindicalista e posteriormente político Jerónimo Sousa, foi amor à primeira vista. Na realidade o que vimos nos primeiros tempos de liderança foi o resultado da política dura de Jerónimo de Sousa a fazer o seu partido voltar às mais profundas raízes ideológicas do Marxismo-Leninismo em defesa total do proletariado e das classes desprevilegiadas e agora vemos um progressivo regresso antigos e angariação de novos militantes (tendo tido espantosos crescimentos na base militante) com a sua, bem oleada, máquina propagandista.
Por sua vez o CDS-PP vê-se exactamente na mesma situação mas apenas numa fase anterior: depois da liderança de um político de curta visão como Ribeiro e Castro, o Partido Popular viu o regresso do seu Paulinho das Feiras, desta vez com camisas desabotoadas, que nem um D. Sebastião partidário no seu mau momento. Agora resta esperar se este, consegue (com a sua liderança) ter o mesmo brilhantismo de Jerónimo de Sousa, mas com cada vez mais eleitorado a fugir à Direita, fica a questão se este também será conseguido através de uma reorientação para as raízes. Por enquanto, o CDS-PP ficará com os seus resultados insatisfatórios enquanto a reorganização interna continua.
2) O Efeito Sócrates/Ferreira Leite vs. O Efeito Vital Moreira/Rangel
Estas eleições, foram deveras surpreendentes e particularmente interessantes pois, para já a festa é farta pelos lados sociais-democratas, alimentada por uma espera de 11 anos, quando na realidade os seus resultados não são assim tão animadores. No entanto estes 30% são, talvez, os resultados mais intrigantes a que já assisti. Ora então porque?
Primeiro, fica a grande dúvida se este resultado foi um efeito duma real (e louvável) concentração de atenções junto dos cabeças de lista às Europeias, e assim devendo-se a uma justa e clara avaliação, pelo menos, dos seus discursos; ou então se terá sido apenas um desabafar político do descontentamento da governação de José Sócrates nos últimos anos.
Ou seja, fica por saber se esta vitória do PSD se deve a uma pseudo-brilhante campanha de Rangel acompanhada de uma quantidade propagandista de má qualidade a Vital Moreira ou se, por sua vez, se deve à vingança dos Portugueses por José Sócrates. Apesar de achar que a verdadeira razão é a segunda (pois obviamente o povo português pouco ou nada esteve interessado nestas Europeias e nas suas consequências), resta falar sobre uma grande problemática que são as Legislativas. Se, de verdade, houver muito atrito a José Sócrates (como estes resultados provaram), o que acontecerá nas Legislativas? Será que os Portugueses continuaram a definhar o seu PM quando a alternativa for a mui odiada Manuela Ferreira Leite?
Apenas poso dizer que umas eleições que todos estariam à espera que fossem uma “sondagem” para as Legislativas e para as Autárquicas, acabaram por ser um turbilhão de probabilidades para o futuro.
"Surpreendentemente Positivas" e "Surrealmente Negativas" são as únicas expressões que consigo utilizar para descrever estas passadas Eleições Europeias, que culminaram com o início de uma pequena-grande alteração política partidária em Portugal e que se afirmaram como uma verdadeira chaga para muitos dos senhores dessa vida.
Antes sequer, de falarmos de resultados temos obviamente de referir os patéticos níveis de abstenção que registamos nestas eleições. Vejo todos os partidos (menos o PS e o MMS) a festejarem com os seus resultados, e pouco ou nada se importando, relegando muitas vezes para notas de rodapés nos seus discursos a fraca participação dos cidadãos europeus (de Portugal). Parece que nem o apelo do Presidente da República, Cavaco Silva, resultou no tirar de rabinhos de compatriotas nossos dos seus sofazinhos para decidirem qual a representação política portuguesa num órgão que, à medida que a Europa navega pelas águas do federalismo, vê o seu grau de importância aproximar-se ao das legislativas. Mas falarei melhor sobre este assunto no meu próximo artigo.
Ao invés da normalidade de um artigo, vou lançar os tópicos da minha análise em diferentes posts, aqui indo o pequenino primeiro:
1) Duelo do Centralão:
Sem dúvida alguma que não houve eleições europeias na história em que mais “facadas e arranhões” se viram entre o PS e o PSD. Choveu uma torrente de ataques e defesas às políticas do Governo de José Sócrates, às posições do PS parlamentar em relação ao Governo, às metodologias de oposição de Manuela Ferreira Leite, das expressões e expressionismos de Vital Moreira e de muitas outras “merdices” (ou seja, discursos derivados de merda, à falta de melhor palavra) que nada tinham a ver ou contribuíam para um discurso saudável sobre a representatividade portuguesa na Europa.
O que resultou daqui foi, obviamente, um desastroso resultado para o “Centralão” tendo tido votos roubados pela panóplia de restantes partidos, que nestes começam a ver uma alternativa à corda-bamba governamental dos últimos 35 anos. Finalmente parece que estamos a assistir o cansaço e descontentamento dos votantes Portugueses da política de mal-dizer e de oposição infundamentada e insustentada destes dois partidos e apenas espero que esta se reflita numa saudável e muito importante mudança nas Autárquicas, em que os lobbies partidários menos força têm na população.
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